segunda-feira, 13 de abril de 2009

Difusão de desfibrilhadores exige rede de emergência médica

Posted on 23:33 by oncare



Difundir a utilização de desfibrilhadores na Região não tem qualquer utilidade sem a existência de uma equipa médica que preste apoio imediato na pós-reanimação do paciente, alerta médico.







A introdução de desfibrilhadores automáticos nas ambulâncias e em locais públicos de grande afluência, tais como aeroportos, estádios ou superfícies comerciais, anunciada pelo Governo Regional, levanta dúvidas do ponto de vista médico.




Luís Mendes Cabral, médico com experiência de trabalho no INEM, explica que, numa situação de paragem cardio-respiratória, ao fim de seis minutos de utilização do desfibrilhador automático externo (DAE) é necessário proceder à administração de uma droga para que a reanimação do paciente seja um sucesso. Ora, a droga em causa só pode ser administrada por pessoal médico ou de enfermagem.




No caso dos Açores, como não existe um serviço de emergência médica pré-hospitalar (serviço prestado por médicos ou enfermeiros) - existe apenas um serviço de transporte de doentes para as unidades de saúde mais próximas do local da emergência prestado por bombeiros - "não tem qualquer utilidade difundir a utilização dos DAE se imediatamente após o seu uso não chegar uma equipa com capacidade de suporte avançado de vida", alerta o médico, em carta aberta dirigida ao presidente do Governo Regional, ao secretário regional da Saúde, ao secretário regional da Ciência, Tecnologia e Equipamentos e ao presidente da Protecção Civil dos Açores.






Como explica na missiva, "um indivíduo que sofra uma paragem cardíaca e que seja desfibrilhado pelo DAE necessita de um pronto apoio médico pós-reanimação", porque "após retomar o pulso, o doente não é capaz de respirar sem auxílio de ventilação externa e o coração enfraquecido necessita de fármacos para continuar a funcionar".





Luís Mendes Cabral exemplifica: "a probabilidade de sobrevivência de uma pessoa que sofra uma paragem cardio- respiratória no centro da cidade de Ponta Delgada é perto de zero, isto porque, o tempo de saída da ambulância do quartel e do transporte dessa pessoa ao hospital, é o suficiente para a pessoa chegar ao hospital sem vida, mesmo que os bombeiros de Ponta Delgada, altamente empenhados em resolver a situação, utilizem correctamente o DAE".




O médico refere ainda, que "em vários países em que os desfibrilhadores são utilizados, só o acto de retirar o desfibrilhador do local onde ele está (normalmente numa caixa com visibilidade pública) activa imediatamente o sistema de emergência médica local (a central percebe que existe activação do DAE e imediatamente é enviada uma equipa para o local, sem qualquer contacto telefónico para o 112)".






É por essa razão que, para o médico, "anunciar a implementação de DAE nos Açores para solucionar as graves lacunas na área da emergência médica é uma medida política que demonstra um total desconhecimento científico".




Por outro lado, acrescenta ainda na carta enviada, "dotar cada concelho da Região de ambulâncias equipadas com monitor de sinais vitais é um desperdício de recursos públicos, pois os bombeiros não têm a formação universitária e clínica necessária para interpretar paramentos vitais", além de que é, na sua opinião, "enganador" e "perigoso" referir que existem tripulantes de ambulância com cursos avançados de vida, pois cursos de suporte avançado de vida ou cursos avançados de trauma são cursos exclusivos para médicos e enfermeiros, porque implicam entre outras coisas a administração de medicação". Deste modo, para o médico, o investimento da Região devia ser canalizado para a criação de um sistema de emergência médica, ou seja, de um serviço de proximidade à população com a participação de médicos.






"Era importante que os Açores pudessem deixar os últimos lugares das estatísticas e passassem finalmente a ter um sistema de emergência médica dimensionado à nossa Região de qualidade", defende Luís Mendes Cabral, referindo-se a um estudo publicado em 2006 sobre os sistemas de emergência médicos europeus. No estudo, financiado pela Comissão Europeia, os Açores ocupam o último lugar em todos os índices de qualidade por não ter um sistema de emergência médica organizado.



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